31 de mar. de 2011

Sarah, beijos e água de coco, na praça do desconhecido..

Beijos sob Água de Coco


Quando nos dispomos a mudar propositalmente o rumo do trem da vida, deparamo-nos com surpresas cativantes. O que me houve terá enredo de novela, para sempre, profetizado pelo coração. Uma anedota escrita com mansidão , comparando meu sofrimento com tudo que denominei sonho. Aliás, fora em forma de sonho que tudo isso se deu.

Graciosa história localizada na lógica de dois corações esperançosos. Desci a serra procurando um alento veraz no compêndio belo de fauna e flora, porém nesse vão apetite minha ânsia às surpresas crescia mais e mais. A evolução da ação ou do ato de correr pequenos quilômetros, para ser feliz de fato, as rodas do pesado veículo seguindo em direção a uma realidade , antes bem sonhada. Inútil esboçar isso em sorriso, quiçá em lágrimas. No conforto da habitual poltrona do veículo, meus olhos rudimentares atentavam para a esperança fora dele. Que será dela? Virá até mim mergulhada em inocência, trazendo-me a tragédia necessária e um sentimento regado a coco e harmonia...harmonia...um termo opcional que abocanha a paciência dos músicos. Opcional apenas aos músicos de veneta.

De repente , poderia tornar-se tudo saudade, solidificada nos parapeitos , no edifício, no asfalto..mas, vale seguir em frente, sem pretender antever o final. Eis que, estando frente à estrada, vi que o coração alucinava-se na canção do cansaço preferido – o que o corpo, quando ama, rejeita...não ousa cansar-se banalmente...isso é o funcionamento rotineiro da química.

No entanto, após ter desembarcado, o copro, a estância livre de integridade e inocência, irrompe, estampada nos fragmentos de sol, estendendo-me a sua face para o beijo matinal. Me perdoem os céticos, os modernistas sobretudo, mas um coração brasileiro tornas-se insuperável nos modos corriqueiros do cotidiano. Encontrar o amor, muito embora tendo-se que abocanhar febrilmente alguns imperceptíveis quilômetros, não faz de nenhum vivente um ser desmiolado e patético. Mais patético é aquele que não possui amor para buscar; E nada mais horrendo que não aventurar-se para sofrer positivamente (na positividade do amor). Sob a ótica inaugural de uma tarde incapaz de cessar a modelagem da natureza, sinto os lábios, banhados de água de coco, sedimentados no coração e na saudade antecipada pelo momento, e assim logo penso: - o nosso coração brasileiro precisa é de beijos saborosos – como água de coco. Violão e a namorada do lado, fechando o espetáculo da tarde escondida numa praça desconhecida...só monólogos de confidências, ademais uns gestos que, de tão sinceros, tornam-se eternos._

11 de mar. de 2011

A Crônica do Dia Seguinte



Nada a acrescentar para o dia que em breve virá. Tal qual uma massa ungida com fermento, noto os dias correndo, pouco a pouco, na monotonia que lhes é cabível. Tão tristes, tão notáveis. Fulguram como retratos dispostos na estante, aos quais evitamos dirigir nossos olhos, com receio de que a essência envelhecida que os circunda modifique-se, o que é estritamente impossível. Acrescento, então, o impossível..

Vejo se estou cercado. Estou. De repente abro as retinas, avisto um paraíso, um pasto bem verdejante, e não quero voltar ao cru cimento do perímetro urbano. Sou a partícula do vegetal, é mister ficar, oprimir-se, espremer-me juntamente com a naturalidade restante no mundo. Incrivelmente me houve a opção de escolher um mundo restante.

Vejo mais uma possibilidade, uma definição para os sentimentos mais argutos, escondidos no interior da cavidade esquerda do coração, imperceptível à minha própria curiosidade. Pelo menos agora omitirei curiosidade, sendo de repente o que sempre desejei ser, mas que desconheço, algo apenas sonhado, irrisório, abstrato. Talvez daí esteja irrompendo a arte da liberdade, arte de ser cativado pelo azulado céu que espera-me, convidando-me para um aprazível voo, um voo legal. Voo de juventude.

Diferenciar rejuvenescimento de “juventude”na medida da razão, sem ousar ultrajar com revólveres e facões ou usufruir dos livros caducados para conceituar uma coisa que anda à flor da pele, pelo menos na casa dos vinte anos.

Ouço apupos, vejo crianças enormes, abre-se ante a mim uma cidade compactada nos muros, incendiadas nos fogões, cravada no coração daqueles aos quais o tempo dera uma trégua, resolvendo passar, deixando-os na tolerância do “carpe diem”.Ah, na próxima vida virei tangido de glória irreverente ou serei diferente para afastar-me o sucesso, vez que é trágico cortar as esquinas a pé, deparar-me com seres hostis apontando-me o dedo, denunciando fracasso, como se a mim estivesse dirigida toda culpa causal. Lesado pelo amor em excesso, e a quem dá-lo? Planejar alguma distante viagem ao nada, saber direitinho aquilo que a humanidade busca de mais trágico após a morte, voltar ileso, contar que atrás da porta há um salão enorme onde existe uma sala banhada de sol matinal, umas mesinhas brancas e nelas sentaremos todos, para discutir o que nos houve, o que festejamos, o que deixamos de festejar, em virtude de tantos compromissos pessoais, tão adiáveis!

Não é odiar, desejar ser fragmento de naturalidade não é perfeitamente odiar o concreto, já que ele nasce, brota de nossos dedos ansiosos. A mesma coisa ocorre com quem retira pausadamente os trajos femininos, deixando à mostra o verdadeiro nascedouro dos homens inteligentes e fúteis. Apresentando, sob rápidas bátidas cardíacas, o corpo onde, diante do qual, não há empresário, sedutor, trabalhador, mercenário, malandro e “corretinho” que resista. Ante a nudez somos reais e corretos, somente uma indesejável casta de ignorantes e um montante de regras tolam condenam-na abertamente, fazendo com que a mesma torne-se precipício brutal às almas perdidas. Ledo engano, em memória de Adão devemos propiciar respeito à nudez inocente, já que não é por conta do corpo que a terra é condenada. Se nudez condenasse mesmo, o abismo andaria maquiado e vestido com primor, habitaria nossos lares, dar-nos-ia filhos, partilharia conosco nosso leito...

Ora, serei mais racional. Produzirei no fundo do poço e lhes contarei o que há por lá. Há os transeuntes que passam perto, adejam, nada mais, incapazes de mergulhar a fuça e cheirar o covil aberrador. Ninguém há que tenha mergulhado no final de uma coisa: de um amor,de uma atmosfera. Quando perde-se algo, vem a revolta, se houver morte há desespero, caso contrário a bonança aparece, após as lágrimas, conforme afirma o trecho de um salmo, cujo número não me lembro. Até na morte poderemos sorrir , se quisermos. Na racionalidade a morte espanta a crua fantasia e não há pintura nem violões. Há cimento, há cinza e , contudo, ficamos mais reais e verdadeiros. É a sabedoria pausada, meditada,e isso é ser livre. Não ser livre para fustigar o corpo e o espírito, mas sim provar e aproveitar com estultícia algo chamado - experiência. Não perder tempo entre quatro paredes, entre portas e janelas, ideando mundos e fundos ao passo que a humanidade torna-se vivaz, mantenedora do seu processo evolutivo; pisemos na praia, entremos na onda do mar aberto, Deus é por nós, e veremos no que dá. Dosagem é o princípio, racionalidade é a chave.

O tempo é a dura carne que não amoleceremos. O tempo resiste a carícias, nao sorri recebendo rosas no dia dos namorados. O homem que se tranca, perde o bonde, fica à deriva, e perde a chance de provar o mais doce dos prazeres: o prazer de viver.

E chega o tempo, solapa tudo. E aí não restará mais nada, a não ser a possibilidade daquilo que poderia ter sido e que não foi, e uma puta dor de corno_.

7 de mar. de 2011

O Sonho de Sarah (*)

Jamais eu poderia supor que um sonho redundasse em aprimoramento poético. Vezes tantas, ainda no estágio inicial da minha juventude, cri que sonhos eram avisos prévios de algo quer aconteceria muito brevemente, havendo uns outros sonhos que, logicamente, não passavam de intervenção fantasiosa do cérebro.

Diferentemente desse contexto, apareceu-me um sonho contado poeticamente. Um sonho com veleidades mórbidas. Tal qual uma canoa à deriva no nada, deparando-se com fortes torrentes de líquido azul e poderoso. Um sonho que, para quem tentar enfrentá-lo ,torna-se um imenso breu, cansando a vitalidade. Infelizmente um sonho nada bom.

Bem como José que, sob atenção divina, interpretara sonhos ao faraó, senti a mesma nostálgica impressão ao ler um pataco de versos que me aparecera na página de recados do Orkut, mas sem data marcada , nem aviso prévio, tal qual ocorre às surpresas verdadeiras. Fora eu presenteado e no entanto não poderei retribuir de mesmo modo à poetisa, pelo nobre presente. Não em sonho narrado poeticamente, pelo menos.

É algo que alcunhei de cântico. Parece mais uma canção trazida do berço do tempo, alguma magia que a poetisa vinculara à aflição do sonho. Um sonho curioso, onde a narrativa incorre dizendo que alguém não sabia escrever o nome da autora com a devida segurança e que também não é devidamente reconhecida pelo “destinatário”. Uma aflição que torna-se tocante graças, unicamente, à simplicidade autêntica dos versos.

Raras aparições merecem um comentário, sobretudo em se tratando de poemas simples e tocantes, outrossim elaborados com todo primor por pessoas, de igual modo, simples e tocantes. E, daqui do escritório, contemplei essa arte, ao som de foliões e batucadas, irrompendo da esquina.

E sob o som da folia do carnaval nasceu esta canção:


Sonho ruim

Você é apenas um sonho ruim
E quando eu acordar, vou gritar
Mas você não estará em mim

Os anos passam e você volta
Com outro corpo, outra voz
Mas a sua alma é a mesma
Os seus sentimentos e pensamentos são iguais

Eu nunca direi as três palavras
Nunca tenho a menor importância
Morrerei um dia e você não saberá
Porque já terá me esquecido.

E sempre me pergunta se eu esqueci meus amigos
Claro que não, eles pensam em mim
Você nunca pensa.

Você me esquece, escreve meu nome errado
Isso me dá muito ódio, você não sabe meu nome
Nem sabe que eu existo, prefere pensar nas coisas ruins
Você está preso ao seu passado, para não viver o presente.

Você não vai me vencer, terá que me matar
Você não é insubstituível
Você acha que eu não sei pensar ?

Você sempre se acha superior, me ofende

Acaba comigo, não me entende
Eu nunca sou boa o suficiente
É sempre assim
Os meus sonhos são muito ruins.


(*) Poema recebido por mim na pag. de recados do Orkut. Com paciência pude lê-lo, querendo não entrar no seu universo paralelo à aflição. O que mais me tocou não foi o conteúdo ou a disposição dos versos, mas a simplcidade autêntica e ,claro, a atenção da sua autora.