JORGE LUIZ DE SOUZA JR.
LITERATURA,ARTE,MÚSICA E EQUIDEOCULTURA.
22 de jun. de 2012
29 de fev. de 2012
Aqui nesta terra posso humildemente asseverar que cumpri meu papel de dono de um lugar conhecido, no qual plantei casos e descasos. Não me despeço na comicidade de um discurso de caráter sumamente público. Me despeço no exagero de ter que compreender que os novos horizontes se encaixam duramente, mas encaixam-se, na leveza dura de uma escrita renovada. Após incontáveis prós e contras , estou retornando paulatinamente à prosa, só que não me atrevo a me tornar um vate. Na miudeza da poesia há um leque de formalidades dos quais me descuidei e , logicamente, ele foi-se.
O que seria a poesia da mudança? O que mudar? Sinto um proibido calor ao pensar que percorrerei novos rumos numa terra inóspita. Confesso que ter que abandonar a praça das bandeiras imperiais dá-me asco, embrulha-me o estômago. Entretanto é coisa urgente esse abandono, caso contrário eu veria os mesmos pensamentos tornarem-se sólidos na pequenez formal de uma cidade do interior do RJ.
A mudança vem como um beijo natural, o qual me foi dado na respiração do vento. A porta abriu-se diante de mim, mas não fugirei a galope, feroz, feito um fugitivo omisso. Devo, outrossim, reforçar meus laços com o futuro, embora eu não o conheça, e sair calmamente.
Uma cidade, um aprendizado. Jamais eu supunha que largar o berço seria necessário. Ocorreu que a vida me pregou a peça que eu mais temia: a mudança. Umas vozes ressoam de longe, trazem-me à memória a perspicácia da zona rural onde fui criado. Trazem as mãos trêmulas do vaqueiro Ernani apertando a sela, suas mãos longas, pesadas, sua boca relatando alguns feitos prosaicos de sua juvenilidade que o tempo sepultou para sempre. A complacência das babás, o meu primeiro desabafo com um padre local, contando eu apenas 15 anos incompletos, e a penitência: 10 orações pela alma de um amigo. O tombo que levei no brejo, com o tordilho Curió , que meses depois fora sacrificado em virtude de uma fratura grave na quartela. A santa alma dos sapos, encorajados pela natureza . O horizonte azulado de um céu que nem meus filhos conhecerão. ..
Também não ouso deixar de lado as longas horas no Haras, encontrando pinhas quebradiças pela ampla pista de obstáculos. O tratador dos animais mostrando rudimentos de equitação básica, e eu podia ver de perto o seu pé torto embrulhar-se para dentro do estribo enferrujado. Alguma passagem pelo ribeirão localizado atrás da capineira densa, o largo trote pela tarde serrana.
Posso, por ora, entrar no velho quarto do Tinguá. Uma imensa cama torta, minha coleção de Monteiro Lobato enfileirada numa estante de caixote de tomate que eu mesmo engenhara, o cheiro adocicado das plantas dormitando na varanda. O timbre vocal do mais antigo negro , fixado na propriedade, injuriado, querendo que as rosas toquem o céu, encimando a casa grande. E milhares de fatos notórios que não menciono aqui por falta de tempo.
Uma cidade natal eu levo no bolso e na memória. Apenas cabe a Deus rascunhar meus meus pecados num livro à parte, esquecendo-o na estante. Se for possível , que deite-o fora, na árdua fornalha do esquecimento. A lembrança talvez seja comparada a uma fruta que comemos enquanto fresca, uma fruta efêmera. Uma fruta sem docilidade deixar-me-ia enervado, feroz, em silêncio, acovardado diante do que virá posteriormente. A minha cidade natal estou levando. Não é suntuosa, porém é bela. E cabe apenas num precioso canto do bolso: saudade.
13 de out. de 2011
Vendedores de Sonhos
Ontem fora feriado nacional, dia das Crianças, 12 de Outubro de 2011. É de praxe para mim ter que largar os adventos do sossego serrano aos finais de semana e feriados para viajar, coisa que faço satisfeito. Desci acompanhando ambulantes abarrotados de doces, bebidas de marcas várias, balões, guloseimas, tudo para adoçar a alma gentil dos pequenos. Entre eles seguia uma prole de menores também enfurnados na vendagem desumana, onde homens esgotados, de faces suadas, laboram alguma ideia pessoal acerca do amanhã. Homens que desejam sonhar, só que nem para tal ação encontram tempo vago.
Embarco na locomotiva um tanto maltratada em direção a Japeri. Os ambulantes adentram feito ventania brava, explodindo em cólera humilde, em suor, maltrapilhos, vociferando sabores, balas e chocolates amolecidos pelo calor infernal. O banco incomoda-me. Sigo analisando cada detalhe desses seres que merecem uma atenção, uma aclamação. Merecem, outrossim, que algum vivente dotado de compaixão (preferencialmente uns do que estão enfurnados em Brasília) preste adequada atenção na mazela que os tolda a existência – mazela denominada miséria. Miséria , a mãe das almas feridas, pés inchados, bocas amarguradas e sequeladas de tanto pronunciarem valores baixos de produtos pífios, muito aquém da sobrevivência e da dignidade humana, levando-se em máxima consideração a questão da represália de caráter governamental em cima desses ambulantes, resultando no impedimento do pão, da água e do sustento.
Vi pequeninos sôfregos em pleno feriado nacional, esbravejando doce, bala e coragem. Há em minha família um exemplo desse quilate: meu pai, que aos 15 anos de idade vendia balas no trem da Central, sendo portanto doloroso para mim notar que essa problemática estende-se por anos e anos mais. Desejo ver a caridade religiosa em cima desse problema. Quero ver a finalidade de tanta contribuição, de tanta obra de Deus, ao passo que nossas crianças perecem de sede, frio e fome. Muita discussão, muita invenção desastrosa e nada sendo feito. Muitos charlatães e uma infinidade de homens dignos sem teto. Eis o Brasil, eis o feriado que admirei, consternado, com meus olhos. No entanto, os pequenos mostravam um olhar sem feriado, perdidos no árido sol que os janelões danificados coavam numa desmesura de poesia urbana. E os pequenos gritam, mas não choram, vendendo seus sonhos e lucrando coragem e luta. Crianças que converteram-se em homens, sabendo Deus como.
3 de out. de 2011
13 de set. de 2011
TEMPOS MODERNOS
Ferozmente, o lobo devorador consome o tempo e a paciência daqueles que se atrevem a ficar horas e horas compartilhando sentenças tolas ao seu lado. Entretanto, sua fala é seguida de tom acentuado, sentenças viáveis àqueles que usam de malandragem para sobreviver, coisa que um reles marginal reconheceria à distância. Centenas de almas com psiquê amortalhado de dívidas altas depositam esperança no gazofilácio. Um feixe de luz corta as vidraças, dando brilho à condolência galvânica das joias modestas do “líder ministerial”.
O canto uníssono das beatas recheadas com refrigerante de uva . A castidade, o desterro material seriamente agregado às notas fiscais , sepultadas na gaveta , lugar agraciado por Deus. Parece , todavia, um manto de poder, um tapete estendido em pleno solo brasileiro, onde um homem comanda uma determinada quantidade de ouvidos curiosos, bocas curiosas e olhos manipulados. Apenas não manipularam-me a mente - eis o que importa . De repente vi uma cerca arrebentada, arrematei toda a distância possível num só pulo. Decorei as ladainhas, choraminguei as promessas individuais, nas quais apenas Deus me abençoaria, enquanto o meu próximo pedia pelas bênçãos inerentes ao seu contexto social. Ao pular a cerca, tudo isso ficara no esquecimento santo.
Elite cheirando a mofo em pleno século moderno. Moedas e mais moedas adentram no gazofilácio, ao passo que minha paciência esmorece. Certamente, é mais conveniente que o céu esteja no meio da rua, no sagrado prato de comida, no necessário suor diário do que aqui dentro. Tudo cheiro de mofo. Acompanho o líder entoando uma prédica em pó,e os seres automaticamente levantam-se para depositar no gazofilácio a esperança em forma de moeda.
Tudo sob o bafo musical das beatas recheadas de refrigerante de uva, procrastinadores de milagres, homens batidos e civis consciências violadas.
2 de set. de 2011
Um Sono
Espero que toda noite seja pouca, que teus braços de mulher sejam mais altos que as estrelas que ninguém relatou.
Preciso que meus versos cantem temas sinceros, de um modo submisso, feito um escravo decorrente do espaço onde há quadros, tintas e vexames. Preciso, agora mais do que antes, de um parágrafo inovado, tecido por mãos sinceras. Preciso doutorar a fase da justiça, tatuada no coração dos mais fracos. Cessei com a água das crenças, mergulhei num fundo pântano. De lá extraí vozes moles, seres afobados no costume, placas inacabadas e a fórmula da poesia não descoberta. Trouxe uma pá para compor um conto. Isto será um conto na minha eternidade. Acredito sinceramente que a psicologia não apoiará um reles homem que quer desenterrar alguém que durma no imutável escuro, detrás da cortina das horas. Para isso há uma pá.
Passa o dia. Chegou a vez dos cabelos, o corpo espera o toque das mãos conhecidas (geralmente são calorosas as mãos que conhecemos). De repente, um montante de vozes ripostam o absurdo pelo lado de fora do meu apartamento:
_ É o amor do caos no pé do ouvido.
Por um momento caio no sono. E ainda não durmo.
25 de ago. de 2011
Lá no anfiteatro das árvores tranquilas, pasmadas com o sol,
O doce fruto me esperava e eu corria, para teus braços, para os braços das lágrimas
Enquanto do meu cérebro irrompiam amargas lições do mundo antigo,
Dito mundo onde eu poetava, cantor do escuro?
O longo tapete dos olhos semiabertos e me acenava você , curiosa,
Detrás da sombra do edifício circundando o monte do meu ser,
O monte da terra, o monte das eras,
Como eram teus sonhos enormes exclamações sentenciais!
Entre os infernos, os choques, centauros,
Pingavam nódoas femininas em borracha, citosina, guanina,
Na borracha do céu - cônscias e sérias almas endividadas
Que impregnam de fome o sonho dos corpos infantis!
A grave poesia séria da bandeira desnuda, destarte alguma frase?
No profissionalismo dos corpos seguiremos avante
Arfantes, dois arados no sistema capitalista, arados exaustos,
Dos quais descansam os discos pratas no infinito céu dos burocratas pacificados !
Ah, mulher sem ser , mulher sem ter,
A mulher para mim, a mulher de mim...
Cuja finalidade corpórea serve para atingir vozes e surdinas,
Cujo caminho seu é ir-se de encontro ao além existente nos povoados
Do sexo entretido com o encontro das águas,
De repente aquela cobiça pura de olhar água morna e sair cantando,
E eu deitando contigo amada, na relva dos danos,
E nós dois, ambos capitalistas sem bandeiras , olhando uma viela de almas
E um caminho empoeirado com seu destino certo,
Que nos levará a nenhuma habitação, a nada.
E na bandeira do amor no caminho sentiremos , exaustos , a importância do céu!
O céu e o reencontro........